quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

A Oncoginecologia

A sub-especialidade oncologia - ginecológica tem, nas últimas décadas, apresentado um desenvolvimento científico significativo, tornando patente que o cuidado com a mulher deve ser feito por uma equipe multidisciplinar.
Os componentes da equipe abrangeriam profissionais ligados à onco-ginecologia, à oncologia clínica, à radioterapia, à patologia, à psicologia, à dermatologia, à cosmetologia e à fisioterapia. A dimensão do conjunto de especialistas mostra a importância e, fundamentalmente, a necessidade de valorizar os aspectos preventivos do câncer ginecológico.

Esses aspectos levam o onco-ginecologista a ser muitas vezes o "médico da mulher (semelhante ao conceito do "médico de família) a partir do término da reprodução, seja ele obtido por métodos artificiais (cirúrgicos, medicamentosos ou por dispositivos) ou fisiológicos ( menopausa ).
A responsabilidade de tal ato requer um vasto conhecimento dos mesmos em todas as especialidades acima especificadas, dando oportunidade à mulher de, quando necessário, ter acesso ao conhecimento das mesmas.

O suporte técnico-científico de forma abrangente principalmente às mulheres, como também aos profissionais das áreas descritas e especialistas, requer uma dinâmica de atualização só possível de ser obtido através de uma comunicação moderna pela internet.
Daí a criação de uma página intitulada: " Oncogineco.com ".

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Dr. Ayrton de Andréa

Contato

Risco de infecção acidental por papiloma virus humano

Risco de infecção incidental por papilomavírus humano e desenvolvimento de lesão escamosa intra-epitelial de baixo-grau em mulheres jovens

Risks for incident human papillomavirus infection and low-grade squamous intraepithelial lesion development in young females

Anna-Barbara Moscicki, MD; Nancy Hills, MA; Steve Shiboski, PhD; Kim Powell, NP, RN; Naomi Jay, NP, RN; Evelyn Hanson, NP, RN; Susanna Miller, BA; Lisa Clayton; Sepideh Farhat, MS; Jeanette Broering, NP, RN; Teresa Darragh, MD; Joel Palefsky, MD

Histórico: Lesão escamosa Intra-epitelial de Baixo Grau (LEEB) é relatada como sendo uma conseqüência histológica benigna da ativação de replicação do papilomavírus humano (HPV). Vários estudos têm descrito que existem certos riscos comportamentais e biológicos para LEEB, sugerindo que o HPV, isoladamente, não é suficiente para o desenvolvimento de LEEB. Porém, não é conhecido se os riscos comportamentais e biológicos são simplesmente riscos para infecção por HPV.

Objetivo: examinar prospectivamente riscos para infecção por HPV em mulheres HPV negativas e o desenvolvimento de LEEB em mulheres com infecção por HPV.

Material e método: estudo de corte prospectivo conduzido entre 1990-2000, com seguimento mediano de 50 meses.Mulheres com idade de 13 a 21 anos, que compareceram em 2 clínicas de planejamento familiar na área de São Francisco; 496 tinham infecção por HPV e 105 eram HPV-negativas.

Resultados: cinqüenta e quatro infecções por HPV ocorreram em 105 mulheres que eram HPV negativas no início do estudo (duração mediana de seguimento para mulheres que permaneceram HPV-negativas foi de 26 meses). Análise multivariada mostrou que os riscos para HPV incluem comportamento sexual (relative hazard [RH], 10,1; IC 95%, 3,24-31,5 por novo parceiro por mês), história de herpes simplex vírus (RH, 3,54; IC 95%, 1,37-9,1), e história de verruga vulvar (RH, 2,73, IC 95%, 1,27-5,87). Uso corrente de contraceptivo oral tem um efeito protetor significativo (RH, 0,49; IC 95%0,28-0,86). Nos 496 indivíduos que eram HPV positivos no início ou no seguimento, existiram 109 casos incidentes de LEEB durante o intervalo de acompanhamento, com um período mediano de 60 meses para aqueles que nunca desenvolveram LEEB. Infecção por HPV foi o fator de risco mais significante para o desenvolvimento de LEEB. O modelo multivariado mostrou os seguintes fatores de risco para o desenvolvimento de LEEB: infecção por HPV por menos que 1 ano (RH, 7,40; IC 95%, 4,74-11,57); infecção por HPV de 1 a 2 anos (RH, 10,27; IC 95%, 5,64-18,69); infecção por HPV por 2 a 3 anos (RH, 6,11; IC 95%, 1,86-20,06); e hábito diário de fumar cigarros (RH, 1,67; IC 95%, 1,12-2,48).

RISCO PARA H.P.V.
COMPORTAMENTO SEXUAL  
HERPES VÍRUS  
VERRUGA VULVAR
10,1
 (3,54 – 31,5)
3,54
(1,37 – 9,1)
2,37
(1,27 – 5,87)
  (Novo parceiro/ mês)


RISCO PARA LESÃO INTRA-EPITELIAL DE BAIXO GRAU (L.E.E.B.)
H.P.V
H.P.V
H.P.V.
FUMO
< 1 ano 
  >1 <2 anos 
>2 <3 anos    
DIÁRIO
7,4 
(4,74-11,57)
10,2  
(5,14-18,65)  
6,1
(1,86-20,06)  
1,67
(1,12-2,48)
Conclusão: os resultados indicam riscos distintos para HPV e LEEB. A maioria das mulheres com infecção por HPV não desenvolveram LEEB dentro de um seguimento mediano de 60 meses. Esses achados sublinham a hipótese de que certos riscos biológicos supostamente relacionados com LEEB são, na realidade, riscos para aquisição de HPV. Fumar cigarros foi um risco específico para LEEB, apoiando o papel do tabaco como um carcinógeno.

JAMA 2001; 285: 2995-3002

Disponibilizado no site em 12/07/2001

TRH - Terapia ou terrorismo?

REPOSIÇÃO HORMONAL (T.R.H.) -TERAPIA OU TERRORISMO ?
Hipócrates nasceu no ano 460 a.C. É considerado o pai da medicina. Criou regras para o exercício da medicina que estabelecem respeito pela vida humana, seja a de homens livres, mulheres ou crianças. Todos os médicos ao se formarem repetem o “Juramento de Hipócrates” que diz:

“Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda”.

A medicina não foi criada para trair, como foi estampado em um dos periódicos semanais, a propósito da pesquisa sobre terapia de reposição hormonal.

É necessário compreendermos as mudanças que a mulher passa por ocasião da menopausa, quando há a transição dos anos reprodutivos da mulher para os não reprodutivos.

É o último estágio de um processo biológico no qual os ovários gradualmente produzem níveis mais baixos dos hormônios sexuais, ou seja, estrogênio, progesterona e testosterona.

Esta situação ocorre entre os 45 e 55 anos de vida. Na mulher pós-menopausa, os níveis de estrógeno são cerca de 1/10 da fase pré, sendo produzidos pelas glândulas adrenais e células gordurosas, e os de progesterona são praticamente ausentes.

Os reflexos dessa alteração endócrina determinam alterações ginecológicas e extra ginecológicas. Entre as primeiras estão as disfunções menstruais e alterações da genitália feminina com aparecimento de desconforto, ardor e maior probabilidade de infecções vaginais e/ou sintomas sexuais, como falta de lubrificação, dor ou sangramento durante a relação devido à atrofia genital, determinando problemas pessoais, conjugais e sociais, estes pelas alterações neuropsíquicas, tais como a depressão e a séria perda da auto-estima que as mulheres passam a apresentar. Entre as segundas destacam-se as relacionadas com os sintomas vasomotores que determinam as famosas ondas de calor, alterações da pele e anexos (pelos, cabelos, glândulas sebáceas e sudoríparas) e alterações do metabolismo dos ossos levando à temida osteoporose.

Um dos aspectos importantes a ser analisado é a observação do aumento do número de mortes em mulheres na pós-menopausa por doenças cardio circulatórias.

Por todos esses aspectos a menopausa desafia o médico a estabelecer uma análise critica de cada mulher a fim de poder avaliar, aconselhar e dar suporte terapêutico. Nesse sentido a medicina há cerca de 100 anos procura através de medicamentos diminuir esse sofrimento que a mulher experimenta. Claro que, para tal, protocolos clínicos são desenvolvidos para uma avaliação científica dos diferentes métodos de tratamento.

Até o presente momento inúmeros trabalhos, já publicados, relatando melhoria das alterações acima citadas, seja por meio de observações clínicas, seja por métodos laboratoriais ou,ainda,através de diagnóstico por aparelhos.

Surge agora um trabalho de grande impacto publicado no Journal of the American Medical Association dos EUA (JAMA, vol 288: pág. 321, 2002) que envolveu número elevado de participantes. Foi baseado na administração de placebo (comprimido de trigo) para 8102 mulheres comparada ao uso da associação de estrógeno (obtido de urina de éguas prenhes - Premarin: 0,625mg/dia) com progestágeno (medroxiprogesterona: 2,5mg/dia), para outras 8506 mulheres. Estes dois grupos experimentais, tanto o do placebo quanto o tratado, eram formados por mulheres em sua quase totalidade saudáveis, escolhidas ao acaso no universo de candidatas ao projeto, e não diferiam quanto ao peso, hábito de fumar, idade, pressão arterial, uso de outras medicações, etc. O objetivo inicial era medir ao longo de 8,5 anos o surgimento de efeitos tanto bons quanto indesejáveis. Claro que nem as mulheres, nem os médicos investigadores sabiam quem usava placebo ou medicamento.Portanto, este tipo de intervenção médica obedeceu ao princípio obrigatório de ser “duplamente cego”.

Entretanto, o estudo foi interrompido após 5 anos pois os resultados alcançados , analisados semestralmente por uma comissão de segurança e avaliação de dados, apresentavam diferenças estatisticamente significativas entre os grupos placebo e o tratado.

As medicadas apresentaram maior freqüência de complicações cardíacas, trombose de vasos cerebrais, embolia pulmonar e câncer de mama. Em compensação elas tiveram menos câncer de intestino e menos fraturas ósseas, estas últimas sabidamente comuns após a menopausa. Sucintamente encontrou-se :

NÚMERO DE CASOS POR 10.000 MULHERES POR ANO

T.R.H. PLACEBO DIFERENÇA
Câncer de mama 38 30 + 26 %
Doenças cardíacas 37 30 + 23 %
Derrames 29 21 + 38 %
Coágulos sanguíneos 26 13 + 100 %
Fraturas ósseas 10 15 - 33 %
Câncer do colon e reto 10 16 - 37 %

O risco absoluto para uma mulher isolada usando a reposição hormonal estudada é, ainda, muito pequeno.

Embora ao longo de todo o estudo a mortalidade total tenha sido idêntica nos dois grupos de mulheres, e o número de pessoas afetadas por alguma complicação clínica tenha sido muito pequeno (exemplo: 166 casos de câncer de mama entre as tratadas, contra 124 entre as falso-medicadas) sendo o excesso de risco por 10.000 mulheres observadas por ano de 8 cânceres de mama, 7 doenças cardio circulatórias, 8 casos de tromboembolia pulmonar a mais, com menor risco, evidenciado por 6 casos de câncer intestinal (colon e reto) e 5 casos de fraturas de bacia a menos. Claramente o estudo mostrou que tais efeitos adversos tendem a piorar com o tempo de uso da medicação, o que levou os autores à conclusão de que as participantes não se beneficiaram com a terapia hormonal como os médicos acreditavam até então. Mostraram também que tais efeitos (tanto os ruins, quanto os bons) atingiram indistintamente todos os grupos de mulheres arroladas no estudo.Ou seja, não dependeram de suas idades,do hábito de fumar,da diabetes, da raça, de seu peso, ou uso crônico de outras medicações.

Esta investigação WHI (Women´s Health Initiative) veio confirmar outros estudos populacionais também recentes no exterior, notadamente o HERS (Heart and Estrogen/Progestin Replacement Study) , o PEPI (Postmenopausal Estrogen/Progestin Interventions Trial) e o NHS (Nurses´Health Study). Portanto não foi uma surpresa completa.

Houve, após a publicação na imprensa leiga, um pânico generalizado entre as mulheres usuárias de reposição hormonal, indiscriminadamente. Isto significa que independente do esquema que estão utilizando, seus receios intensificaram-se com justa razão.

Não se observou um tratamento ético na mídia e, sim, uma corrida para manchetes mais sensacionalistas.

É preciso entender que especialistas estão sempre analisando tais trabalhos e, na certeza de poderem atuar de maneira humana e científica, escolhem as melhores opções para suas pacientes, atendendo ao princípio hipocrático do “primo non nocere” que significa “em primeiro lugar, não ferir ou machucar”.

Por isso, é necessário avaliar, conversar e discutir com cada paciente quais opções hormonais ou não, pode ela utilizar.

No Brasil, principalmente nos últimos anos, a associação hormonal do trabalho citado, estrógenos extraídos de éguas prenhes, não é a mais usada.

O chamado hormônio humano, 17 beta estradiol, é largamente receitado, associado a progesterona ou não, dependendo do caso.

As vias de administração também são variadas. Pode-se empregar medicação tópica, através de geléias ou adesivos, contendo hormônios em seu interior, com uma película que permite, em contato com a pele - a liberação da medicação em quantidades menores e mais uniformes. Implantes de produtos na pele.

Hormônios derivados de plantas, entre os quais destacam-se os fito estrógenos, particularmente a Isoflavona, estão sendo ainda investigados e já utilizados, propiciando, até o presente momento, efeitos colaterais de menor importância.Porém, a administração é via oral e a sua absorção varia muito de organismo para organismo.

Também cabe citar que, mesmo em pacientes com câncer de mama e de ovário, após estudos chamados histoquímicos que avaliam a possibilidade de prescrição ou não de hormônios, o uso de estrógenos tem sido utilizado, sem evidências científicas de aumento do número de recidivas, metástases ou outros tipos de cânceres no grupo estudado.

Enfim, cabe ao médico, com sua formação humanista, dar à sua paciente explicações detalhadas aplicáveis em seu caso, em relação a melhor opção de Terapia ( e não Terrorismo) de Reposição Hormonal.

Prof. Dr. Ayrton de Andréa Filho
Professor Titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Chefe do Serviço de Oncologia Ginecológica da Faculdade de Medicina de Sorocaba – PUCSP

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Dr. Ayrton de Andréa Filho

Ayrton de Andréa Filho

• Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Sorocaba da Pontifícia Universidade Católica De São Paulo ( 1972 ).

• Residência Médica na Área de Cirurgia no Hospital A.C. Camargo da Fundação Antonio Prudente - Hospital do Câncer de São Paulo ( 1973 - 1976 ).

• Chefe dos Residentes do Hospital A.C. Camargo da Fundação Antonio Prudente- São Paulo ( 1974 ).

• Vice-Presidente da Associação Nacional dos Médicos Residentes - ANMR ( 1974 ).

• Presidente Fundador da Associação dos Médicos Residentes do Estado de São Paulo- AMERESP ( 1975 ).

• Representante dos Titulares do Hospital A.C. Camargo da Fundação Antonio Prudente no Conselho Médico do Hospital ( 1978 ).

• Titular do Departamento de Ginecologia do Hospital A.C. Camargo da Fundação Antonio Prudente ( 1979 a 1992 ).

• Coordenador de Residência e Estágios da Escola de Cancerologia Celestino Bourrol do Hospital A.C. Camargo da Fundação Antonio Prudente ( 1980 - 1983 - 1984 - 1985).

• Chefe do Centro Cirúrgico do Hospital A. C. Camargo Da Fundação Antonio Prudente ( 1979 - 1980 - 1983 - 1984 ).

• Membro do Conselho Médico do Comitê Operacional de Pesquisas e Tecnologia da Johnson & Johnson Do Brasil ( 1983 a 1988 ).

• Membro da Comissão de Incrementos e Supervisão Científica Hospital A.C. Camargo da Fundação Antonio Prudente ( 1985-1986 ).

• Membro do Conselho Médico do Instituto Central - Hospital A.C. Camargo da Fundação Antonio Prudente ( 1985 - 1986 ).

• Presidente do Conselho Técnico Administrativo do Hospital A.C. Camargo da Fundação Antonio Prudente ( 1985 - 1986 ).

• Superintendente do Hospital A.C. Camargo da Fundação Antonio Prudente ( 1985 a 1987 ).

• Chefe da Divisão de Rastreamento e Detecção do Câncer Ginecológico da Fundação Oncocentro de São Paulo ( 1992 a 1995 ).

• Doutor em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo ( 1994 ).

• Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina de Sorocaba da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ( 1994 ).

• Professor Associado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ( 1999 ).

• Professor Titular do Departamento de Cirurgia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ( 2004 ).

• Chefe do Serviço de Oncologia Ginecológica da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina de Sorocaba da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ( 1995 a ..... ).

Doença Trofoblástica

Neoplasia gestacional

Trompas uterinas

texto

Vagina

Câncer de vagina

Vulva

câncer de vulva

Terapia de Reposição Hormonal

TRH e o risco de desenvolver câncer

Genética e Câncer Ginecológico

Pesquisa em câncer ginecológico

Papiloma Virus Humano

Papiloma virus humano
Risco de infecção acidental por papiloma virus humano

Ovário

Carcinoma epitelial do ovário

Corpo do útero e endométrio

Câncer do endométrio

Colo do útero

Câncer do colo do útero

Mama

Doenças benignas da mama
Cuidados pós mastectomia
Estadiamento clínico e tratamento
Tipos de cânceres de mama
Câncer de mama e dieta
Sobre o câncer de mama

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Neoplasia gestacional

NEOPLASIA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL
É definido pelo blastoma originado nas vilosidades coriais (trofoblasto).

CLASSIFICAÇÃO CLÍNICO-PATOLÓGICA (LEWIS)
I -Doença não metastática - constituída pela:

a. mola hidatiforme “in situ” (parcial),

b. mola hidatiforme invasora (completa)

c. coriocarcinoma

II- Doença metastática - catalogada em:

· Baixo Risco: metástases limitadas aos pulmões e/ou à pelve, título de gonadotrofina coriônica inferior a 100.000 UI/L e duração da doença, antes da quimioterapia, menor que quatro meses.

· Médio Risco: metástases limitadas aos pulmões e/ou à pelve, título de gonadotrofina coriônica superior a 100.000 UI/L e duração da doença, antes da quimioterapia, maior do que quatro meses.

· Alto Risco: metástases cerebrais e/ou hepáticas; nestes casos são irrelevantes tanto os títulos de gonadotrofina coriônica assim como a duração da doença ou ainda a utilização quimioterápica anterior incorreta ou inexistente.

Em 1991 o Comitê de Oncologia da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia-FIGO, propôs o estadiamento a seguir :

ESTADIO I

Tumor confinado ao corpo.

IA-Doença limitada ao útero sem fator de risco.

IB-Doença limitada ao útero com um fator de risco.

IC-Doença limitada ao útero com dois fatores de risco.

ESTADIO II

Ultrapassa os limites do útero, confina-se às estruturas genitais, tais como anexos, vagina e ligamentos largos.

IIA-Envolve estruturas genitais sem fatores de risco.

IIB-Ultrapassa os limites do útero, porém, confinado às estruturas genitais com um fator de risco.

IIC- Ultrapassa os limites do útero, porém, confinado às estruturas genitais com dois fatores de risco.

ESTADIO III

Pacientes com metástases pulmonares com ou sem doença no útero, vagina ou pelve.

IIIA-Metástases pulmonares, sem fatores de risco.

IIIB-Metástases pulmonares, com um fator de risco.

IIIC-Metástases pulmonares, com dois fatores de risco.

ESTADIO IV

Pacientes com metástases no cérebro, fígado, rins ou trato gastrintestinal (qualquer localização).

IVA-Metástases em qualquer localização sem fatores de risco.

IVB-Metástases em qualquer localização com um fator de risco.

IVC-Metástases em qualquer localização com dois fatores de risco.

Os fatores de risco considerados são:

· Gonadotrofinas coriônicas acima de 100.000UI/ml

· Duração da doença maior que seis meses a partir do término da gestação anterior.

Outros fatores de risco devem ser considerados. A tabela a seguir evidencia-os e foi aceita pela Organização Mundial de Saúde.

FATORES  
CONTAGEM * 
 
  0       
1           
2          
    4
Idade (anos)    
£ 39 
> 39
   
Prenhez anterior
Mola 
Aborto
Termo
 
Intervalo**    
 < 4 
4 – 6
7 – 12  
> 12
HCG ( mUI/ml)   
103
103 – 104
104– 105
> 105
Sistema ABO     
O x A ou A x O
B, AB
 
Diâmetro tumor     
< 3 cm 
3 – 5cm
> 5cm
 
Metástases (sítio)  
Baço, Rim
Trato geniturinário, Fígado
Cérebro
 
Metástases (Nº)   
 
 1 – 3
4 – 8
> 8
Quimioterapia Prévia     
Agente único
Dois ou mais agentes
         



TABELA 1 – Sistema de contagem baseado em fatores prognósticos


* Obtém-se a contagem total somando o valor individual de cada fator prognóstico. Contagem total igual ou inferior a 4 = baixo risco; 5 a 7 = médio risco e igual ou superior a 8 = alto risco.

** Intervalo (em meses) entre o fim da gravidez anterior e o início da quimioterapia.

EPIDEMIOLOGIA
Sabe-se que o coriocarcinoma pode aparecer após qualquer gestação. Há um maior risco pós mola hidatiforme.

INCIDÊNCIA

É estimada em 1:10.000 a 1:70.000 gestações no ocidente e 1:250 a 1:6.000 na Ásia.

IDADE MATERNA

O risco é maior em mulheres acima dos 40 anos.

PARIDADE

É mais comum em multíparas e há relação destas com a idade da gestação.

RAÇA

Acredita-se que as diferenças existentes possam estar relacionadas com aspectos culturais, ambientais e socioeconômicos.

FATORES SOCIOECONÔMICOS

A alta incidência parece estar relacionada à desnutrição e baixa situação socioeconômica, ainda que populações do Havaí e Inglaterra não tenham evidenciado tal associação.

ASPECTOS GENÉTICOS
Hoje se define a mola completa como sendo aquela resultante da fertilização de um “ovo vazio” (fecundação de um óvulo cujo núcleo se perdeu ou foi inativado) por um espermatozóide com 23 X cromossomos que se duplica para formar 46 XX. A maioria é homozigótica. Menos freqüente dois espermatozóides podem fecundar o ovo, determinando a constituição cromossômica de 46 XX ou 46 XY(Figura 1).

A mola parcial origina-se da fecundação de um óvulo que retém seu conjunto de 23 X cromossomos,por dois espermatozóides, resultando um feto triplóide com 69 cromossomos e um complemento de cromossomo sexual XXX,XXY ou XYY(Figura 2).



Fig. 1 – Etiologia da mola completa. Fig. 2 – Etiologia da mola parcial.



TABELA 2: CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E HISTOPATOLÓGICAS
Elementos Mola Parcial Mola Completa
Macroscopia Alteração focal, com vilosidades grandes.
Porém maiores e menos hidrópicas que as da mola completa;
medem, no máximo, 3 cm "Cachos de uva" entremeados a coágulos sangüíneos, sem outras estruturas;
vilosidades hidrópicas podendo ser > 3 cm
Vilosidades Com ou sem aumento volumétrico. Aumento volumétrico.
Tecido Conjuntivo Rico e imaturo. Edema viloso, formando cisternas, bem definidas na periferia.
Trofoblasto Hiperplasia focal (no sinciciotrofoblato)
Inclusão trofoblástica no estroma. Hiperplasia do cito e sinciciotrofoblato (anaplasia)
Embrião Embrião ou feto presente. Vivo ou morto
Cariótipo triplóide. Embrião morre cedo ou inexistente.
Cariótipo diplóide.
Membranas Presentes Ausentes.



SINTOMATOLOGIA

A manifestação clássica é:

Sangramento uterino em gestação precoce
Útero de tamanho maior para a idade gestacional
Hiperêmese gravídica (vômito excessivo)
Pré-eclampsia.
Na mola completa os sinais e sintomas aparecem em torno da 7 ª semana. Não ocorrendo o esvaziamento, o aborto se dará ao redor da 17 ª semana.

Na mola parcial, estando o feto vivo e pouca alteração hidatiforme placentária, os sintomas são mais tardios.

O sangramento ocorre em quase 97 %, seu aspecto é semelhante a suco de ameixa, pela liquefação do coágulo intra-uterino. Hemoglobina baixa (menor que 10 g%), ocorre em cerca de 50 % dos casos.

O aumento uterino, devido a proliferação trofoblástica e coágulos sanguíneos, é caracterizado pela medida do diâmetro ser de quatro semanas a mais que a idade gestacional. Isso leva a um risco maior de neoplasia trofoblástica e embolização linfática.

O vômito ocorre em ¼ das pacientes, nas quais o útero está maior que a idade e a dosagem de gonadotrofina coriônica está elevada.

Pré-eclâmpsia também ocorre em ¼ das pacientes, sendo que a tríade hipertensão, edema e proteinúria é manifestação tardia da gestação molar.

A gonadotrofina coriônica (hCG) sanguínea ou urinária é importante para diagnóstico principalmente precoce, ou seja durante o primeiro trimestre da gravidez.

Hipertireodismo ocorre em quase 10 % das pacientes. Sinais clássicos como aumento da tireóide, febre, taquicardia e pele quente, induzem ao diagnóstico dessa possibilidade. Nestes casos a tiroxina, triiodotironina e PBI estarão elevados.

Aumento de volume dos ovários caracterizado pela cistose ovariana foi encontrado em cerca de 50 % das pacientes. O cisto teca-luteínico aparece devido a taxas elevadas de hCG e posterior superestimulação dos ovários. Seu diagnóstico geralmente é feito pelo ultra-som.

Outros sintomas poderão aparecer principalmente na doença metastática, devidos a alterações locais da mesma. Exemplos típicos são os escarros hemoptóicos, nas metástases pulmonares, a hipertensão intra craniana, nas metástases cerebrais.



COMPLEMENTAÇÃO DIAGNÓSTICA
A avaliação das pacientes segue a seguinte orientação:

· Dosagem de hCG, em urina de 24 horas ou dosagem hCG sub-unidade beta no sangue.

· Hemograma completo e contagem de plaquetas.

· Dosagem de bilirrubinas e transaminases.

· Dosagem de uréia, creatinina e T3 e T4.

· Radiografia de tórax (frente e perfil).

· Tomografia de tórax.

· Ressonância magnética do tórax (quando necessário).

· Arteriografia pélvica (quando necessária).

· Ultra-sonografia pélvica e abdominal.

· Tomografia computadorizada cerebral (quando necessária).



TERAPÊUTICA
Na mola hidatiforme, não metastática, o esvaziamento uterino é suficiente. Este pode ser feito utilizando-se a curetagem ou vácuo-aspiração. Todo o material obtido deve ser encaminhado para exame anátomo-patológico.

Enfatiza-se a necessidade de esclarecer a paciente para a importância da anticoncepção imediata, utilizando-se de preferência anticonceptivos orais.

Sabe-se que 85 % das neoplasias trofoblásticas se curam espontaneamente. O restante evolui para as formas invasivas local e/ou metastatização.

Cirurgia:

As pacientes serão submetidas à cirurgia -Histerectomia total com conservação anexial nas seguintes circunstâncias: hemorragias incoercíveis, perfurações uterinas, moléstias não metastática com prole definida, intolerância ou refratariedade à quimioterapia, grandes massas pelvianas, infecção rebelde, cirurgias parciais (exéreses).

Não há necessidade de intervenção cirúrgica nos cistos ovarianos. Estes deverão regredir com o tratamento instituído, exceção feita nos casos de complicações como torção ou ruptura quando se caracteriza então quadro de abdome agudo.

Quimioterapia:

Utiliza-se nos casos de tumor trofoblástico persistente e coriocarcinoma.

Os esquemas variam de acordo com o estadiamento.

Na neoplasia não metastática utiliza-se a monoquimioterapia que pode ser com o methotrexate ou a actinomicina – D.

TABELA 3: Esquema monoquimioterápico com Metotrexate e fator citrovorum
DROGA DOSE DIAS VIA
Metotrexate 1mg/kg 1-3-5-7 I.M.
Ácido Folínico 0,1 mg/kg 2-4-6-8 I.M.

O uso do ácido folínico é para proteger os tecidos normais, desde que o metotrexate bloqueia a redutase dihidrofolada, permitindo uso de doses mais altas de metotrexate.

Monitora-se a toxicidade realizando a leucometria, contagem de plaquetas e dosagem de transaminase glutâmica-oxalacética nos dias de aplicação do metotrexate.

Os sinais e sintomas de toxicidade incluem o aparecimento de alopecia (queda do cabelo), mucosite (inflamação das mucosas com aparecimento de úlceras) e toxicidade cutânea, gastro-intestinal.

Havendo redução dos níveis de hCG, o esquema deve ser mantido até sua normalização.

Não havendo resposta ou ocorrendo redução dos níveis de hCG menor que 50 %, acrescenta-se 0,5 mg/kg de metotrexate e 0,05 mg/kg de ácido folínico à dose inicial.

Na falha de respostas a esse esquema após duas séries, preconiza-se o uso do esquema denominado de EMA-CO (TABELA 4)

TABELA 4: Esquema EMA-CO para Neoplasia Trofoblástica Gestacional de Alto Risco

1ª Etapa
Dia 1
DROGA DOSE VIA
Dactinomicina 500 mg E.V.
Etoposide 100 mg/m2 Infusão-250 ml de soro-30 min.
Metotrexate 100 mg/m2 E.V.
Dia 2
Dactinomicina 500 mg E.V.
Etoposide 100 mg/m2 Infusão -250 ml de soro-30 min
Àcido folínico 15 mg I.M. ou Oral - cada 6 h. x 4 doses
Inicio 12 h após término do metotrexate

2ª Etapa
Dia 8 Vincristina 1.0 mg/m2 E.V.
Ciclofosfamida 600 mg/m2 Infusão -250 ml de soro-20 min
Dia 15
Recicla 1ª Etapa
Pacientes com tumor no Sistema Nervoso Central aumentar o metotrexate para 1 g/m2 em infusão de 24 h.

Aumentar o ácido folínico para 15 mg I.M. ou V.º cada 8 horas x 9 doses iniciando 12 horas após o metotrexate.


SEGUIMENTO
O seguimento da Neoplasia Trofoblástica Gestacional Maligna é feito com a dosagem da sub-unidade beta do hCG pelo método de radioimunoensaio. Durante o 1º ano de seguimento da moléstia, iniciando logo após a última série de reforço de quimioterapia, este parâmetro será dosado quinzenalmente nos dois primeiros meses e, a seguir, mensalmente por 2 vezes e posteriormente bimensalmente por um ano. A partir do 2º ano, por dois anos, o hCG sub-unidade beta será dosado a cada três meses.

Havendo metástases pulmonares, deverá ser realizada durante o tratamento uma radiografia de tórax (frente e perfil) antes de cada série de quimioterapia sendo necessário a planigrafia pulmonar, quando a radiografia simples de tórax não mostrar metástases, para a confirmação da ausência de atividade tumoral no pulmão.

O seguimento destes casos incluirá além da dosagem sérica de hCG sub-unidade beta, na forma acima descrita, a feitura de uma radiografia de tórax (frente e perfil) a cada 3 meses durante o primeiro ano, e semestralmente até completar 3 anos.

Em todos os casos, um exame clínico deverá ser realizado mensalmente no primeiro ano e trimestralmente nos dois anos seguintes, além de se evitar uma nova gravidez durante um período de três anos com a utilização de anticoncepcionais hormonais orais.

Laparoscopia para avaliar o abdome e histeroscopia para monitorar a cavidade endometrial são métodos hoje empregados em maior escala, bem como a dopplervelocimetria para avaliação das artérias uterinas e o miométrio.

Câncer de vagina

VAGINA

ANATOMIA

A vagina é um canal músculo membranoso com uma profundidade de mais ou menos onze centímetros obtidos na sua parede posterior. Na parede anterior, desde que o colo do útero está incorporado a ela, sua profundidade atinge cerca de 10 cm.O estudo da embriologia evidenciou que a vagina surge da fusão e canalização dos ductos de Müller com o seio urogenital.

Os tecidos que compõem a anatomia pélvica vaginal são:

a) Músculo Liso - as fibras musculares destes músculos estão em constante estado de atividade. Elas ajudam a manter o tônus vaginal e também respondem rapidamente às tensões aplicadas a eles. São inervadas através do sistema nervoso autônomo pelos seus arcos reflexos espinais químicos ou estímulos mecânicos com respostas involuntárias. O músculo liso também mostra contração rítmica.

b) Músculo Estriado - suas fibras respondem, também, rapidamente às tensões e ajudam na manutenção do tônus e equilíbrio, mas de uma forma voluntária.

c) Tecido Elástico - As fibras do tecido elástico estão dispostas em uma malha irregular a qual é especialmente proeminente em tecidos usualmente submetidos a uma tensão. O tecido elástico responde à tensão com estiramento, mas irão resistir a tais estiramentos por uma tendência natural de retornarem ao seu estado original. Estas fibras quantitativamente diminuem com a idade, porém, a extensão que isto está relacionado com hormônios ou que poderiam possivelmente regredir com a suplementação hormonal, não é atualmente conhecida. A diminuição no número de fibras elásticas com a idade da mulher possivelmente responde em parte pelas diferenças na média de recidiva pós-operatória da cistocele entre mulheres com uma história de menopausa já adiantada em contraste com aquelas mulheres ainda em fase reprodutiva.

d) Colágeno - as fibras colágenas estão dispostas também numa forma de uma rede entrelaçada, mas diferente das fibras do tecido elástico não são extensíveis. Entretanto são flexíveis permitindo movimentos em áreas onde a extensão não está sendo pretendida.

e) Propriedades especiais dos vasos sangüíneos pélvicos e perineais - existe grandes redes venosas dentro da pélvis capazes de considerável distensão venosa. Estas veias são na sua grande maioria não possuidoras de válvulas, de modo que o sangue pode fluir livremente em qualquer direção. O aquecimento dos tecidos que vão sofrer ereção (clitóris, bulbo cavernoso e etc), demonstra que grande parte do sangue envolvido no processo de ereção vem de fato da dilatação arteriolar e a congestão venosa coexistente, sendo provavelmente um fenômeno secundário.




LESÕES PRECURSORAS E MALIGNAS DA VAGINA

Ainda que a vagina, conforme exposto no âmbito da anatomia, seja um órgão de fácil acesso no exame ginecológico, infelizmente as doenças malignas não são diagnosticadas precocemente.

O câncer primitivo da vagina foi pela primeira vez descrito em 1877 por Cruveilhier.

A lesão precursora ou também chamada por neoplasia intraepitelial da vagina foi pela primeira vez descrita em 1933 por Hümmer.

O câncer primário da vagina é raro e representa 1% a 2% das lesões malignas da genitália.

No Brasil os dados histopatológicos indicam uma incidência de 2,3% entre as neoplasias do aparelho genital feminino.

Dentre os tumores benignos os pólipos fibroepiteliais, os leiomiomas e os fibromas são os que apresentam maior incidência, com baixo índice de recidiva pós remoção dos mesmos. São tumores que raramente dão sintomatologia e não têm potencial oncogênico. Mais recentemente procura-se chamar atenção para os condilomas da vagina ocasionados pelos papilomas vírus subtipos 6 e 8. Estes são de natureza benigna porém, devem ser tratados e seguidos colposcopicamente para prevenir lesões precursoras da vagina.

A classificação histopatológica das diferentes lesões benignas e malignas da vagina é abaixo definida.

1 - Adenose da vagina.



2 - Cistos vaginais

Inclusão epitelial

Cistos para mesonéfricos - mülleriano

Mesonéfrico

Urotelial

3 - Neoplasia intraepitelial

NIVA I (displasia leve)

NIVA II (displasia moderada)

NIVA III (displasia acentuada - carcinoma in situ)

4 - Neoplasias epiteliais malignas

a - carcinoma epidermóide

b - adenocarcinoma

5 - Neoplasias mesenquimais

Benignas:

Leiomioma, angioma.

Malignas:

Rabdomiossarcoma embrionário, tumor mesodérmico misto maligno.

6 - Melanoma

7 - Linfoma

8 - Carcinoma indiferenciado



NEOPLASIA INTRAEPITELIAL DA VAGINA
Estas neoplasias assumem importância cada vez maior desde que, com a presença do papiloma vírus humano sua incidência tem aumentado significativamente nos últimos anos, como também têm feito um aumento da taxa de incidência de lesões precursoras e malignas em faixas etárias mais jovens.

Entre os fatores possíveis de estarem relacionados à sua incidência temos irritação por agentes químicos (duchas e medicamentos) , prolapso do colo uterino, cirurgias pregressas (neovaginas) e cauterizações. Todas estas causas ainda não foram exaustivamente estudadas a ponto de poder incriminá-las diretamente. Hoje, sabe-se que o fator mais importante para o advento da NIVA é o papiloma vírus humano, o mesmo vírus responsável pelas patologias do colo do útero e da vulva.

DIAGNÓSTICO

NIVA é usualmente assintomática. Seu diagnóstico é feito pela evidência de citologia anormal. Queixa de manchas de sangue pós-coito ou corrimento vaginal pode ocorrer. As lesões são mais freqüentes na parede posterior do terço superior da vagina. Podem ser simples ou multi focais.

O exame de Papanicolaou ou chamado esfregaço cérvico-vaginal, leva a hipótese da presença de atipias em seu resultado.

Todas as pacientes com lesões de colo do útero devem ser submetidas a um exame minucioso da vagina.

É importante assinalar que cerca de 60% das mulheres com NIVA III e 30% com NIVA II, apresentam neoplasia cervical pré invasiva ou invasiva.

As lesões precursoras são multifocais com maior incidência no terço superior da vagina. É raro diagnosticar-se esse tipo de lesão no terço inferior da mesma.

O diagnóstico pela colposcopia deve ser feito cuidadosamente tendo em vista a necessidade de se examinar toda a superfície da mesma, incluindo aquelas que ficam ocultas pelas lâminas do espéculo.

Nas pacientes pós histerectomias é importante avaliar a invaginação que a mucosa da vagina sofre pela sutura do fundo da mesma, após a retirada do útero.

A rugosidade desta região e do fundo da vagina deve ser aplainada pela abertura do espéculo a fim de permitir a completa inspeção.

O uso do ácido acético na proporção de 3 até 5%, deve ser feito nas paredes vaginais por cerca de 3 minutos para detectar as lesões aceto-brancas. Após o exame com ácido acético, aplica-se a solução iodada do lugol ou corante de Schiller. O tecido normal adquirirá a coloração amarronzada, enquanto as células do tumor não reterão o corante.

A aparência da neoplasia intraepitelial vaginal é semelhante aquela da neoplasia intraepitelial cervical, porém, após a aplicação do ácido acético, sua visibilização é mais sutil e menos facilmente detectada.

Também à semelhança com as neoplasias intra-epiteliais cervicais -NIC, o padrão vascular pode ficar caracterizado pela presença das figuras colposcópicas chamadas de ponteado e mosaico.

As alterações vasculares estão associadas com as neoplasias intraepiteliais vaginais de alto grau e também com os processos já neoplásicos mais tardios que se caracterizam por formas vasculares atípicas.

O diagnóstico se estabelece pela biópsia cuidadosa das áreas suspeitas após o exame colposcópico.

TRATAMENTO DA NEOPLASIA INTRA-EPITELIAL DA VAGINA

Sendo neoplasia que se manifesta com lesões uni ou multicêntricas o tratamento pode ser conservador para as primeiras utilizando-se o laser de CO2, cuja atuação permite mapear a superfície e a profundidade a ser tratada evitando-se seqüelas tipo estenoses locais.

Na impossibilidade de utilizar tal método, recorre-se quimioterapia tópica com 5-fluoruracil a 5 %. As aplicações devem ser em dias alternados durante 6 semanas.

A remoção das lesões pode também ser realizada com bisturi de alta freqüência. O risco de tal procedimento está na dificuldade de avaliar a profundidade de ação do mesmo, advindo lesões intestinais ou vesicais.

Quando a doença é extensa e/ou multifocal aconselha-se a colpectomia (remoção das paredes vaginais) parcial ou total.

O uso da radioterapia intra cavitária é possível com bons índices de cura.

NEOPLASIA MALIGNA DA VAGINA

O carcinoma primário da vagina só pode ser diagnosticado como tal se for evidenciado ausência de lesões no colo e na vulva, bem como não ser essa lesão metástase de outros tumores. O diagnóstico de patologia maligna primária da vagina é feito se não houve nos últimos 10 anos presença de patologias malignas do colo e da vulva.
TABELA 1 - ESTADIAMENTO DO CÂNCER DA VAGINA - FIGO
(Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia).
ESTADIO    
SITUAÇÃO CLÍNICA
Intra-epitelial
I  
Limitado à parede da vagina 
II
Estende-se ao tecido sub-vaginal mas não a parede pélvica lateral 
III
Estende-se até a parede pélvica
IV

Estende-se além da pélvis verdadeira ou compromete a mucosa da bexiga ou reto(edema bolhoso não determina que o estádio é IV)

IV A
Envolvimento dos órgãos adjacentes
IV B
Envolvimento dos órgãos à distância.


Somente 15 a 20 % são tumores primários da vagina.

Clinicamente manifesta-se mais comumente pelo sangramento pós-coito (75 % das pacientes), seguido da disúria (dor à micção) e dor pélvica.

Seu diagnóstico só é possível com uma história clínica e um exame especular bem feito. Este se acompanha da colposcopia e o teste de Schiller (aplicação local de solução iodada = Lugol).

A citologia é falha possibilitando um diagnóstico em cerca de 20 % dos casos e, em casos de adenocarcinoma de células claras, por serem de crescimento submucoso, sua acurácia é praticamente nula.

TRATAMENTO DO CÂNCER INVASIVO
Depende de fatores como:

· Estádio clínico

· Tamanho

· Localização da lesão

· Presença ou ausência do útero e

· Radioterapia prévia ou não.

A drenagem linfática da vagina tem que ser levada em consideração, pois a radicalidade da cirurgia depende de seu conhecimento.


Figura 1: Drenagem linfática da vagina

O tratamento pode ser:

· Cirúrgico

· Radioterápico

· Quimioterápico e

· Associações.

ESTADIOS I e II

Tumores do terço superior da vagina devem ser tratados pela cirurgia de Wertheim-Meigs que consiste na histerectomia total, salpingectomia bilateral, ooforectomia bilateral, linfadenectomia pélvica e remoção do terço superior da vagina coma margens cirúrgicas adequadas (cerca de no mínimo 1,5 cm de margem da lesão).

Tumores do terço inferior tem como tratamento cirúrgico a vulvocolpectomia parcial ou total com linfadenectomia ínguino-femoral bilateral.

Já os tumores do terço médio têm seu tratamento cirúrgico determinado pela proximidade com os terços adjacentes e daí o uso das técnicas acima descritas.

A radioterapia pode ser utilizada utilizando-se a braquiterapia na dose de 8.000 a 9.000cGy aplicada por cilindros vaginais.

A radiação externa emprega aparelhos que utilizam fótons de alta energia acima de 18Mev.

O campo preconizado envolve toda a região da vagina, o intróito e as cadeias linfáticas pélvicas, até a cadeia ilíaca comum.

A irradiação da região inguinal e femoral também deve ser avaliada até a dose de 6.500cGy.

ESTADIOS III E IV

O tratamento preconizado é a radioterapia exclusiva, reservando-se a cirurgia exenteradora pélvica para casos criteriosamente avaliados.



RECIDIVAS
São comuns mesmo em estádios precoces.

Estádio Local Distante
I 15 a 20 % 15 %
II 35 % 22 %
III 40 % 25 %
IV 60 % 30 %

Seu tratamento é precário. Ressecções tumorais cirúrgicas locais podem ser indicadas.

A quimioterapia ainda não mostrou resultados satisfatórios.



OUTROS TUMORES DA VAGINA
Tumores não embrionários:

· Rabdomiosarcoma embrionário

· Leiomiosarcoma

· Melanoma

Rabdomiosarcoma embrionário

É o tumor mais comum nas crianças. Foi também chamado de sarcoma botrióide.

Sua aparência macroscópica é de uma massa em forma de um pólipo, muitas vezes múltipla, semelhante a um cacho de uva.

O tratamento inicial consistia de histerectomia e vaginectomia totais.

Atualmente o uso de cirurgias menos agressivas é preconizado. Utiliza-se de preferência a quimioterapia para tumores embrionários da infância com resultados satisfatórios.

A radioterapia pode ser utilizada para diminuição de massas volumosas.

Leiomiosarcoma

São tumores raros na vagina. Aparecem na faixa etária acima dos 40 anos.

Sua sobrevida de 5 anos não ultrapassa 40 %. Quando associado a tumores müllerianos mistos, a sobrevida não atinge 20 %.

O tratamento consiste na excisão local.

Radioterapia e quimioterapia não mostram resultados satisfatórios.

Melanoma

São agressivos e pouco adequados a cirurgias radicais. A invasão linfática e sanguínea é bastante precoce.

A sobrevida de 5 anos não atinge 20 %.

O tratamento consiste em ressecções locais e radioterapia complementar.

Cirurgias radicais, como exenterações pélvicas, não mostraram melhora na sobrevida.

Câncer de vulva

Câncer da Vulva
GENERALIDADES

Câncer da vulva é altamente curável quando diagnosticado precocemente. A sobrevida é dependente do estado patológico dos linfonodos da região inguinal. Assim, ausência de comprometimento significa sobrevida global de 5 anos livre de doença da ordem de 90%. Porém, havendo envolvimento linfonodal essa taxa é de 50% - 60% .Fatores de risco para metástase dos linfonodos são: avaliação clínica linfonodal, idade, grau de diferenciação, estádio, tamanho do tumor, profundidade de invasão estromal e presença capilar-linfática. Aproximadamente 30% de pacientes operáveis têm disseminação linfonodal, evidenciando a necessidade de diagnósticos mais precoces.

No entanto, a análise multifatorial de fatores de risco no carcinoma escamoso da vulva demonstra que o estado dos linfonodos e diâmetro da lesão primária, quando considerados juntos, são as únicas variáveis associadas com o prognóstico.

Pacientes com linfonodos inguinais não comprometidos e lesões não maiores que 2 cm tiveram uma sobrevida a 5 anos de 98 %, enquanto que aqueles com qualquer tamanho mas com 3 ou mais linfonodos unilaterais ou 2 ou mais bilaterais, tiveram uma taxa de sobrevida a 5 anos de 29%.

Câncer de vulva é, principalmente, uma doença de faixa etária elevada, acima dos 60 anos, porém tem sido observado em mulheres na pré-menopausa. Geralmente é o carcinoma de células escamosas ou o chamado carcinoma espino celular (C.E.C.), embora outros tipos histológicos podem acontecer, tais como: melanoma, carcinoma baso-celular, sarcoma e adeno-carcinomas.

Em muitos casos, o desenvolvimento de câncer vulvar é precedido por condiloma ou displasias. Atualmente sabe-se que o papilomavírus humano (HPV) é um dos fatores etiológicos de carcinomas em área genitais. O local mais comum de envolvimento é o grande lábio (aproximadamente 50% de casos). O lábio menor responde por 15%-20% de casos. O clitóris e as glândulas de Bartholin são menos envolvidos.

A disseminação de tal tumor é influenciada pela histologia. Lesões bem-diferenciadas tendem a disseminar ao longo da superfície com invasão mínima, já lesões anaplásicas levam a invasão profunda. A disseminação além da vulva se faz para órgãos adjacentes como a vagina, uretra, e ânus, ou pela via linfática para os linfonodos inguinais e femorais e daí para os linfonodos pélvicos. A disseminação hematogênica (via sanguínea) é rara.

ANATOMIA

A figura 1 mostra a complexidade anatômica da região e sua relação com áreas adjacentes.



FIGURA 1: Anatomia Vulva

Faz parte da vulva, o monte de Vênus que é a parte superior da mesma situada sobre o osso púbis. É coberto de pelos. Os lábios maiores são pigmentados, cobertos de pelos na face externa e na interna contêm glândulas sebáceas. Os lábios menores situam-se entre os maiores e unem-se na comissura posterior. Superiormente fundem-se, cobrindo o clitóris, formando o prepúcio e o frênulo e inferiormente formam a comissura posterior. As suas superfícies internas contêm glândulas sebáceas.

O clitóris é uma estrutura erétil formado por uma glande e um corpo. Os bulbos vestibulares estendem-se posteriormente a glande de cada lado da vagina. Cada bulbo é coberto pelo músculo bulbo-cavernoso e está aderido a fascia inferior do diafragma urogenital. O corpo do clitóris é formado por um par de corpos cavernosos que lateralmente se estendem para os ramos púbicos cobertos pelos músculos isquiocavernosos.

As glândulas de Bartholin, que podem originar um carcinoma, chamado de Adenocarcinoma da glândula de Bartholin, são duas entidades secretoras de muco, que drenam através de um ducto, que se abrem no vestíbulo vulvar de cada lado, no ângulo entre o hímen e o lábio menor correspondente.

A irrigação arterial vem da artéria pudenda interna, que aflora da pélvis ao redor da espinha isquiática. Na vulva cada artéria divide-se dando a artéria superficial do períneo que nutre os lábios, a artéria do bulbo, que supre o vestíbulo vulvar e o tecido erétil da vagina, a artéria do corpo cavernoso e a artéria dorsal do clitóris que supre o dorso do órgão e termina na glande.


O nervo principal vem do pudendo interno que tem suas fibras originadas no terceiro e quarto nervos sacrais.


Os linfáticos da vulva drenam principalmente para os linfonodos da região inguinal, que se situam ao longo do ligamento inguinal e da veia safena, em número de aproximadamente vinte. Situam-se acima das fascias lata e cribiforme e inferior a fascia superficial ou de Cramper. Abaixo da fascia cribiforme estão os linfonodos femorais.

CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA

De acordo com a Sociedade Internacional para o Estudo das Doenças da Vulva (International Society for the Study of Vulvar Disease – ISSVD), estas podem classificar-se histologicamente em:

Alterações epiteliais não neoplásicas de pele e mucosa:
Líquen Escleroso
Hiperplasia de células escamosas (antiga distrofia hipertrófica)
Neoplasias Intra Epiteliais Vulvares (NIV)
TIPO ESCAMOSO
NIV I (antiga displasia ou atipia leve)
NIV II (antiga displasia ou atipia moderada)
NIV III (compreende a antiga displasia ou atipia grave e o Carcinoma In Situ -CIS)
TIPO NÃO ESCAMOSO
Doença de Paget da vulva
Melanoma in situ
Outras histologias (Carcinoma de Células Basais (CBC); Carcinoma Verrucoso; Sarcoma; Melanoma Maligno invasivo; Adenocarcinoma e Carcinoma da glândula de Bartholin).
Alterações não neoplásicas

I – Líquen Escleroso, também chamado por líquen escleroso e atrófico, craurose vulvar e atrofia senil ou vulvar, aparece na pós-menopausa, embora crianças e adolescentes podem ser afetadas. Nele a arquitetura vulvar é progressivamente destruída, com a fusão dos pequenos lábios aos maiores e posterior desaparecimento dos mesmos.

Tais lesões quando não misturadas com focos de hiperplasia atípica, não são consideradas pré-malignas.

A vulva se apresenta lisa e brilhante, branca e seca e, às vezes, vermelha pálida.

Há também destruição e desaparecimento de glândulas e anexos.

Prurido não é uma característica do início da lesão, porém pode aparecer mais tardiamente.

A terapia recomendada é o uso de testosterona tópica na forma de propionato a 2 %. Pode-se usar estrogênio e progesterona porém, a intensidade da resposta é menor do que com a testosterona. Corticóides estão atualmente sendo usados principalmente na forma de propionato de clobetasol a 0,05 %, com resultados importantes na redução das alterações tróficas e nas manifestações clínicas de prurido.

Recomenda-se uso de vestuário não apertado e roupas de baixo de algodão.

Excepcionalmente, quando medidas clínicas sistêmicas e/ou locais falham em diminuir sinais e sintomas, pode-se recorrer à cirurgia, realizando uma vulvectomia simples.

II – Hiperplasia de células escamosa, também chamada de leucoplasia, vulvite hiperplásica ou distrofia hiperplásica, não tem etiologia conhecida.

Admite-se relação com uso de desodorantes íntimos, cremes vaginais, roupas de náilon e/ou poliéster, bem como com produtos utilizados para lavagem de roupa.

Pode ocorrer a presença de atipia epitelial, caracterizada por alterações na estratificação do epitélio e na maturação das células. Figuras de mitose podem ser encontradas juntamente com desequilíbrio da relação núcleo citoplasmático e da cromatina nuclear.

Sua manifestação clínica ocorre com aparecimento de lesões pruriginosas, esbranquiçadas com ou sem relevo.

Seu tratamento consiste no uso de cremes com corticóides e antiinflamatórios quando necessário. O alivio da coceira é fundamental. Recorre-se ao uso, inclusive, de tranqüilizantes orais.

Importante frisar que essa patologia só tem seu diagnóstico confirmado por biópsia da lesão. Não há possibilidade do mesmo ser feito clinicamente. Daí a necessidade de se enfatizar o uso de tal procedimento com mais freqüência, desde que atraso no diagnóstico tem levado a desenvolvimento de cânceres e outras patologias.

Neoplasias Intra Epiteliais Vulvares (NIV)

Segundo a ISSVD, caracteriza-se por crescimento anormal do epitélio vulvar. Ocorre distúrbio da maturação e agrupamentos celulares. Presença de figuras de mitose atípicas, hipercromatismo e pleomorfismo, são comuns.

A classificação depende do comprometimento da espessura do tecido decorrente das atipias celulares. Assim :

TIPO ESCAMOSO

As alterações epiteliais ocorrem:

NIV I – 1/3 da espessura do epitélio em sua porção inferior.
NIV II – 2/3 do epitélio está comprometido.
NIV III – alteração de todas a espessura epitelial.
A incidência das mesmas tem aumentado com o decorrer dos anos. Hoje a cifra atinge 55 % comparada com as formas invasivas.

Em relação à idade, sabe-se que 45 % das portadoras de NIV III, têm menos de 35 anos e que, cerca de 25 % são menores de 30 anos.

probabilidade de uma NIV III progredir para uma forma invasiva oscila entre 5 a 20 %.

O tempo médio para que isso ocorra, sem tratamento, é cerca de cinco anos, estando relacionado com a presença de mulheres imunodeprimidas.

Atualmente, sabe-se que 15 a 30 % das pacientes portadoras de NIV tem antecedente de infecção pelo papilomavírus humano.

Os subtipos do PVH (Papiloma Vírus Humano) mais relacionados são, 16, 18,31 e 42.

Também a concomitância de neoplasias intra-epiteliais cervicais e vulvares, sugere a mesma etiopatogenia. Porém, somente 30 a 50 % das portadoras de NIV apresentam NIC.

TIPO NÃO ESCAMOSO

Doença de Paget
A doença na vulva, à semelhança do que ocorre na mama, representa uma diferenciação incomum das células primitivas da epiderme.
Essas células primitivas, formam os queratinócitos escamoso, as glândulas écrinas , apócrinas e sebáceas.
A maioria das pacientes são brancas e estão na pós menopausa.
A doença resulta numa lesão eritematosa, com áreas de hiperqueratose , dando um aspecto de manchas na superfície.
Prurido e dor representam as queixas iniciais, às vezes antecipando o aparecimento da lesão em meses. É comumente confundida com infecção por Cândida.

Melanoma in situ
São tumores raríssimos. Sua origem, está demonstrada ocorrer a partir do nevus (mancha marrom ou azul escura da pele) juncional ou composto.
Localizam-se mais freqüentemente nos pequenos lábios. São hiperpigmentados, geralmente solitários.

Outras Histologias

Carcinoma de Células Basais
É um tumor raro. É mais comum na pós-menopausa e ocorre em cerca de 2% a 4 % das neoplasias malignas da vulva.

A superfície é de aparência granular e bem circunscrita. Na palpação é caracteristicamente firme. Originam-se mais comumente nos grandes lábios e não ultrapassam dois cm de diâmetro. São lesões multicêntricas e associadas a outros tumores locais. História de radioterapia prévia aumenta o risco.

Há duas variantes deste tumor:

Carcinoma Baso Escamoso que é uma variante do carcinoma escamoso e,
Carcinoma Adenóide Cístico.
Carcinoma Verrucoso
Clinicamente assemelha-se ao condiloma acuminado. Microscopicamente, é caracterizado por células epiteliais bem diferenciadas. A superfície é hiperqueratótica. Não há invasão do espaço vascular.

Seu prognóstico é extremamente favorável. Está associado ao papiloma vírus tipo 6.

Sarcoma
Leiomiosarcoma é o mais comum na vulva. São tumores geralmente maiores que 5 cm. de diâmetro. Quando diagnosticados já apresentam invasão profunda. O diagnóstico microscópico leva em consideração contagem de mitoses observadas na lâmina.

Histiocitoma Fibroso Maligno origina-se do histiócito com diferenciação fibroblástica. É o segundo sarcoma mais comum na vulva. Seu pico de incidência é na idade média. Aparece como massa solitária, amarronzada ou pigmentada, secundária a áreas hemorrágicas dentro do tumor. Contém, no estudo imuno-histoquímico, a1-antitripsina e a1-antiquimotripsina. É tipicamente infiltrativo tanto nas margens como na fascia adjacente. O envolvimento desta é associado com alto risco de disseminação local e metástase distante.

Sarcoma Epitelióide ocorre mais nos grandes lábios, área sub clitoridiana e clitóris. É usualmente superficial, podendo ocorrer em estruturas mais profundas. Raramente produzem metástases, embora risco de recidiva local seja freqüente. O diagnóstico diferencial se faz com carcinomas espino celulares e tumores rabdóides.

Outros sarcomas da vulva incluem os angiosarcomas, sarcoma de Kaposi, hemangiopericitoma e liposarcoma.

Melanoma Maligno Invasivo
Aparece em cerca de 3% a 10 % dos tumores malignos da vulva. Ocorre mais em mulheres brancas, na faixa etária dos 50 anos. Pode crescer de áreas previamente pigmentadas ou não. A lesão pode ser plana ou elevada. O diagnóstico diferencial se faz com nevus atípicos e melanose vulvar.

São catalogados em quatro tipos: disseminação superficial, nodular, lentiginoso acral e lêntigo maligno.

O nível da invasão e a espessura do tumor são elementos essenciais para se determinar a evolução do melanoma. O estadiamento se faz a partir destes elementos de acordo com a tabela abaixo.

NÍVEL DE CLARK

NÍVEL DE BRESLOW

NÍVEL DE CHUNG

I –Intra-Epitelial = Melanoma in situ, o tumor não invade a membrana basal

< 0.75 mm

Intra-Epitelial

II-Dermopapilar

0.76  -  1.50 mm

<1 mm a partir da lâmina granular

III – Atinge a camada reticular sem invasão

1.51  -  2.25 mm

1  -  2 mm da lâmina granular

IV – Estende-se para a camada reticular da pele

2.20  -  3.0  mm

> 2 mm da lâmina granular

V – Invade o tecido celular subcutâneo

> 3 mm

Em direção à gordura subcutânea


TABELA 1: ESTADIAMENTO DO MELANOMA DE VULVA

NÍVEL DE CLARK
NÍVEL DE BRESLOW
NÍVEL DE CHUNG

I –Intra-Epitelial = Melanoma in situ, o tumor não invade a membrana basal
< 0.75 mm
Intra-Epitelial

II-Dermopapilar
0.76 - 1.50 mm
<1 mm a partir da lâmina granular

III – Atinge a camada reticular sem invasão
1.51 - 2.25 mm
1 - 2 mm da lâmina granular

IV – Estende-se para a camada reticular da pele
2.20 - 3.0 mm
> 2 mm da lâmina granular

V – Invade o tecido celular subcutâneo
> 3 mm
Em direção à gordura subcutânea


O prognóstico do melanoma de vulva é geralmente ruim, porém, Chung referiu sobrevida a cinco anos de 100 % no nível II, 40 % no nível III e 20 % no nível IV.

Adenocarcinomas - Grandes partes dos adeno-carcinomas originam-se na glândula de Bartholin podem, no entanto, ter origem nos anexos da pele da vulva, incluindo glândulas sudoríparas e de Skene.
Os carcinomas da glândula de Bartholin ocorrem em mulheres acima dos 50 anos. Houve descrição de casos em mulheres na faixa dos 30 anos de carcinoma escamoso da glândula de Bartholin.

Clinicamente aconselha-se a remoção da glândula em mulheres que apresentam aumento da mesma e estão na faixa etária acima dos 50 anos. Aspiração por agulha fina é recomendável na vigência de massas císticas a fim de se avaliar a ocorrência de citologia positiva.

São geralmente lesões sólidas, nodulares com infiltração profunda. Apresenta dosagem de antígeno carcino-embriônico (A.C.E.) elevada. Cerca de 20 % dos casos apresentam metástases inguino-femorais no momento do diagnóstico.

Carcinoma Espino Celular ou invasor da vulva
O diagnóstico baseia-se na palpação ou visibilização de massa ou nódulo após longo tempo de coceira.

Sintomas menos freqüentes podem ser: sangramento, corrimento ou disúria.

A aparência da lesão varia do aspecto carnoso (foto), ulcerado, esbranquiçado ou verrucoso. O aspecto verrucoso está associado em 20 % dos casos. São tumores multifocais.

Seu diagnóstico é estabelecido pela biópsia.

O atraso do mesmo se deve a tabus religiosos e educacionais, além do próprio médico demorar em realizar a biópsia, dado a grande variedade de apresentação clínica dessa neoplasia.

Antes de qualquer conduta terapêutica, é necessário realizar colposcopia do colo do útero, vagina e vulva, desde que lesões pré invasivas e mesmo invasivas podem já existir.

Quando há dúvida no diagnóstico, pode ser realizado o teste de Collins, em lesões suspeitas. Baseia-se no fato do epitélio da vulva sendo escamoso queratinizado, suas células da camada superficial não apresentam núcleo. Espalha-se azul de toluidina, um corante do núcleo divulgado por Collins em 1966, em toda a vulva e, após um minuto, procede-se à remoção do mesmo com ácido acético a 2 %. A permanência da coloração azul indica atividade nuclear, devendo então ser realizada a biópsia nessa área.

Após a realização da biópsia e confirmação da neoplasia, deve-se estadiar o tumor de acordo com a “Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia” -F.I.G.O. e a classificação T.N.M. Hoje o estadiamento dos tumores malignos da vulva é baseado mais na cirurgia do que nos aspectos clínicos.
DEFINIÇÕES DA CLASSIFICAÇÃO T.N.M.

T - Tumor Primário  

Tis: Carcinoma in situ ( pré-invasivo)

T1 : Tumor confinado a vulva e/ou períneo com 2 cm ou menos no maior diâmetro

T2 : Tumor confinado a vulva e/ou períneo maior que 2 cm no maior diâmetro.

T3 : Tumor de qualquer tamanho com comprometimento da uretra inferior e/ou vagina e/ou ânus.

T4 : Tumor de qualquer tamanho com comprometimento da 1/3 superior da mucosa uretral, mucosa da bexiga ou reto e/ou fixação ao osso púbis.

N – Linfonodos Regionais

N0 : Linfonodos não palpáveis

N1 : Linfonodos regionais unilaterais metastáticos.

N2 : Linfonodos regionais bilaterais metastáticos.

M – Mestástase à distância

M0 : Ausência de metástases.

M1 : Metástases à distância (incluindo linfonodos pélvicos comprometidos).



Estadiamento do câncer de vulva segundo a F.I.G.O.
Estádio 0     

Tis (carcinoma in situ)

Estádio I  

Tumor confinado à vulva e/ou períneo.O tumor é menor do que 2 cm e não tem disseminação linfonodal.

Ia : Invasão menor que 1 mm em profundidade.

Ib : Invasão maior que 1 mm em profundidade.

Estádio II

Tumor confinado a vulva e/ou períneo maior do que 2 cm, sem disseminação linfonodal

Estádio III

Tumor de qualquer tamanho com invasão para tecidos vizinhos como : uretra, vagina, ânus.
Linfonodos unilaterais metastáticos

Estádio IV

IVa : Tumor de qualquer tamanho com invasão para: uretra superior, bexiga, reto ou ossos pélvicos.
Linfonodos bilaterais metastáticos.

IVb : Comprometimento dos linfonodos pélvicos e/ou órgãos distantes.




TRATAMENTO

O tratamento cirúrgico inadequado no início do século não permitia uma sobrevida maior que 25 % de cinco anos.

Os precursores no tratamento cirúrgico foram Taussig, Way e Green. Estes autores estabeleceram o conceito da dissecação e ressecção do tumor em bloco com os linfonodos inguinais e pélvicos. Observou-se que quanto mais radical a cirurgia, maior a sobrevida, porém, maior a morbidade e mortalidade operatória. O efeito psicológico de tal procedimento era enorme.

Posteriormente pode-se verificar que em lesões unifocais, a vulva podia ser mantida. A linfadenectomia pélvica podia ser abandonada. No estádio I em lesões com profundidade de invasão menor que um mm a linfadenectomia inguinal podia ser evitada. Em casos de tumores unilaterais e linfonodos de mesmo lado não tumorais, a remoção dos linfonodos contro-laterais era desnecessária.

Hoje a sobrevida em cinco anos é de cerca de 70 %.

O sucesso da cirurgia, tratamento de eleição para o câncer de vulva, depende de cuidados pré-operatórios adequados.

Correção de estados carenciais sanguíneos e alimentares é importante. Cuidados higiênicos locais como limpeza com água e sabão e duchas vaginais é imperioso.

Tratamento da infecção secundária com antibióticoterapia sistêmica. A fim de evitar infecção precoce pós-cirurgia por evacuação, preconiza-se a limpeza do trato digestivo baixo com enteroclisma prévio em número de no mínimo dois.

Anticoagulante terapia com heparina é recomendada em pacientes idosas e com alterações vasculares de membros inferiores(varizes).

Dá-se preferência a anestesia peri-dural.

No pós-operatório, prescreve-se dieta sem resíduos e terapia obstipante a fim de retardar a evacuação e conseqüente risco de contaminação.

Sonda vesical de demora é recomendada até cicatrização adequada do retalho cutâneo mucoso da pele da coxa com a vagina.

A cirurgia pode ser:

exérese ampla;
vulvectomia simples;
vulvectomia ampliada;
vulvectomia radical.
A mais recomendada de acordo com o estado geral da paciente é a radical que compreende a ressecção em bloco da vulva e linfonodos inguino-femorais bilaterais nos estádios II em diante.

As complicações da cirurgia podem ser imediatas e tardias.

As imediatas estão relacionadas com infecções pós-operatória, necrose dos retalhos, observada mais freqüentemente em mulheres obesas, hipertensas e diabéticas, deiscência da sutura, tromboses venosas e presença de linfocistos e/ou abcessos.

As tardias relacionam-se com vícios de cicatrização. São elas as aderências e bridas cicatriciais levando a dificuldade de deambulação e dores.

A infecção urinária é freqüente e deve ser tratada profilaticamente.

As implicações de ordem psicológica diminuíram com a possibilidade de técnicas operatórias plásticas e uso de retalhos músculo cutâneos da vizinhança.

Tais retalhos podem ser obtidos por descolamento e deslizamento da pele da coxa, com posterior sutura dos mesmos a mucosa vaginal, como também pelo uso do retalho músculo cutâneo do músculo Grácil ou da fascia lata ou retalho de pele abdominal.

A escolha dos mesmos recai sobre critérios estabelecidos para cada paciente.

A radioterapia pode ser utilizada em certas circunstâncias tais como:

profilaxia de recidivas tumorais no leito da dissecção linfonodal
recidivas localizadas de difícil acesso cirúrgico.
A quimioterapia tem sido cada vez mais estudada em protocolos experimentais. Não há ainda indicação da mesma de forma adjuvante ou terapêutica.

TRH e risco de desenvolver câncer

Terapia de Reposição Hormonal e Risco de Desenvolver Câncer de Mama

Ainda é inconclusiva tal afirmação. Estudos realizados não distinguem uso de TRH com estrogênio só ou combinado com a progesterona.

A duração do uso de TRH parece ser ainda o fator de risco mais significante. As pesquisas indicam que a TRH iniciada após o aparecimento da menopausa não aumenta o risco de câncer de mama significativamente se usado durante menos de 5 anos .

Depois de 5 anos, o risco relativo aumenta uma vez e meia, particularmente em mulheres com idade acima dos 60 anos. O risco relativo é reduzido após a parada de TRH, e desaparece completamente após 5 anos sem uso de TRH. Os dados não diferem significativamente entre TRH com ou sem progesterona.

Uma história de doença de mama benigna não evidenciou mudança do risco. Também foi observado que a TRH, em mulheres com história familiar de câncer de mama, não parece estar relacionada a maior risco de desenvolver câncer de mama comparada com as mulheres sem uma história familiar .

Mostrou-se que mulheres que tiveram seu diagnóstico de câncer de mama na vigência do uso de TRH apresentaram tumores com grau histológico mais baixo e nenhum risco maior de recidiva. Tal observação se refere a TRH com ou sem progesterona .

Em mulheres que tiveram uma menopausa precoce, artificialmente induzida , a TRH não levou a risco mais alto. Não há nenhuma indicação para seguimento especial deste grupo.

Raloxifene (que é um MSRE - modulador seletivo de receptor de estrogênio) foi liberado , recentemente, para uso na prevenção de osteoporose. Nesta função é geralmente usado substituindo a TRH. Infelizmente, raloxifene também tem ação anti estrogenica , causando assim ondas de calor e suores como também secura vaginal . Permanece desconhecido se confere proteção contra doenças do coração .



Pílula e risco de desenvolvimento de câncer de mama
Há um interesse significativo na hipótese da exposição das mamas a um nível mais elevado de hormônios - estrogênio e progesterona, possa dar origem ao desenvolvimento de células malignas.

Há dois tipos de pílulas :

* Combinadas : Contém os dois hormônios sintéticos femininos : estrogênio e progesterona.

* Simples: Contém somente progesterona.

O Grupo Colaborativo nos Fatores Hormonais de Câncer de Mama, observou, através de estudos epidemiológicos que, durante o uso de pílulas combinadas e no período subseqüente de 10 anos após a interrupção, há um ligeiro aumento do risco relativo de desenvolvimento de câncer de mama. O mesmo estudo demonstrou não haver risco significativo após os 10 anos de interrupção do uso.

O risco relativo é de 1.24 para as usuárias atuais, em mulheres que pararam entre 1 e 4 anos o risco é de 1.16, e nas que cessaram o uso entre 5 e 9 anos é de 1.07. (Define-se "Risco Relativo"-RR de contrair determinada doença, como a proporção entre sua incidência no grupo exposto ao fator conhecido pela incidência no grupo não exposto. Assim , RR de 1.24 significa aumento de 24 % no risco para a exposiçào ao fator estudado).

Observou-se também que o câncer de mama diagnosticado entre usuárias de pílula tende a ser menos avançado do que as que nunca usaram pílula.

Não houve diferença significativa no câncer de mama, desenvolvido em mulheres com ou sem história familiar de câncer de mama.

Atualmente considera-se que o uso de pílula não é contra indicado em mulheres com história de doença benigna de mama.

É importante salientar que a análise do Risco - Benefício é extremamente válida em algumas circunstâncias. Neste caso o uso de anti-concepcionais, deve ser analisado também pelo efeito protetor que os mesmos apresentam no desenvolvimento dos cânceres de ovário e endométrio, particularmente em mulheres com história familiar.

Terapia de reposição hormonal

Terapia de Reposição Hormonal - TRH

Menopausa - Mitos e Fatos

É importante conceituar o termo menopausa. Para os profissionais de saúde que lidam com mulheres adultas, não há diferença quando se referem estar ocorrendo uma "mudança da vida" ou "climatério" ou ainda simplesmente "menopausa". Fundamentalmente o que está ocorrendo é a evolução normal.


Menopausa está associada com mudanças anatômicas, fisiológicas e psicológicas que frequentemente influenciam a sexualidade da mulher após a 4ª década.


O termo menopausa significa em grego a "parada do mês" ( mens=mês, pausis= parada).


O climatério tem início aproximadamente aos 40 anos enquanto a menopausa estabelece-se ao redor dos 50 anos.


Tem havido um aumento significante de mulheres que atingem essa fase e a ultrapassam, necessitando cada vez mais esclarecimento, a fim de não aumentar as angústias e possibilitar a atuação de medidas preventivas.


Há diferenças de sinais e sintomas na menopausa, devidas a fatores como, por exemplo, obesidade, fumo e história familiar.


Não há dúvida da necessidade de haver um grande esforço para esclarecer essas mulheres, a fim de não ficarem a mercê de conceitos errôneos e muitas vezes conflituosos, causando-lhes enormes desconfortos psicológicos e o que é pior, demora na procura de tratamento adequado.


Com o aumento da longevidade da mulher, e de sua participação ativa na sociedade, é importante que se esclareça a necessidade de buscar soluções que possibilitem mantê-la em condições de competitividade a vida. Além de acrescentar anos a vida da mulher é preciso acrescentar-lhe vida a esses anos.


A Terapia de Reposição Hormonal - TRH - hoje ocupa um lugar de destaque em medicina preventiva. Sua efetividade tem sido demonstrada no grande número de vidas salvas e aumento do nível de bem estar.


Atualmente , as conseqüências a longo prazo de perda de estrógeno são as que mais preocupam. Teorias atuais indicam que o estrógeno tem efeitos biológicos extraordinariamente complexos. Clinicamente, isto se traduz em uma variedade de ações em diversos tecidos . Sabe-se que o estrógeno afeta tecidos do esqueleto, urogenital, sistemas digestivos, cardiovasculares, oculares, e nervosos.


Terapia de reposição pode ser na forma de estrógeno só (terapia de reposição estrgênica - TRE ) ou estrógeno combinado com um progestinico (TRH). Estes regimes oferecem diferentes riscos e benefícios a longo e curto prazo para mulheres na menopausa. Como tal, uma abordagem judiciosa e individualizada do manuseio da menopausa é essencial.

Os ovários produzem principalmente 03 hormônios fundamentais: o estrogênio, a progesterona e o androgênio. Os androgênios, errôneamente rotulados como sendo hormônios só dos homens, são fundamentais para o desenvolvimento do ciclo menstrual, pois existe conversão dos mesmos através de mecanismos funcionais, para estrogênios.

As indicações de TRH compreendem terapêuticas consideradas após o aparecimento dos sintomas e as preventivas.

CONSEQÜÊNCIAS  DA  PERDA  DE  ESTRÓGENO
 

Sintomas  ( precoces )    

Rubores quentes
  Insonia   
Irritabilidade
Alterações Físicas
( Intermediárias )   
Atrofia Vaginal
Incontinência Urinária de Stress
Atrofia da pele
Doenças ( tardias )
Osteoporose
Doença  Cardio Vascular     
Demência do tipo da Alzheimer
 


CONSEQÜÊNCIAS DA PERDA DE ESTRÓGENO


Sintomas ( precoces )
Rubores quentes
Insonia
Irritabilidade
Alterações Físicas
( Intermediárias )
Atrofia Vaginal
Incontinência Urinária de Stress
Atrofia da pele
Doenças ( tardias ) Osteoporose
Doença Cardio Vascular
Demência do tipo da Alzheimer


Entre as primeiras destacam-se as decorrentes dos:
Sintomas vasomotores:

Caracterizados pelas ondas de calor ou fogachos e suores frios na região superior do tronco. Ocorrem em cerca de 85% das mulheres como decorrência da queda dos níveis de estrogênio e podem persistir até um ano depois. Podem ser precedidos de sensação de angústia e dor de cabeça. No início são mais frequentes, tornando-se mais esporádicas com o tempo, podendo ser diárias, semanais ou mensais. São mais sentidas a noite, quando as mulheres acordam suando, tiram suas roupas e cobertores e em seguida vêm a sentir frio, buscando agasalho novamente. Há evidente alteração do sono o que leva a irritabilidade no dia seguinte. Alguns fatores desencadeiam e/ou intensificam tais sintomas como mudança súbita de clima, álcool, emotividade acentuada e alimentos que contenham cafeína. Quando não tratados os sintomas desaparecem com o tempo, sendo que muitas mulheres não necessitarão de TRH por mais de 03 a 05 anos, porém em algumas, os sintomas podem continuar além deste período.
Outra indicação sintomática importante relaciona-se com a atrofia urogenital e alterações mamárias.

A perda de estrógeno causa mudanças citológica, bacteriológica, e fisiológicas urogenitais.

Situação extremamente conflitante pois as mesmas chocam a mulher tanto do ponto de vista anatômico como psicológico. Estas alterações estão caracterizadas por:





Vulva :

- Sinais de perda da gordura na vulva, tornando-a mais plana e lisa, aumento do número de glândulas sebáceas, progressiva perda dos pelos pubianos que se tornam quebradiços, aparecimento de pequenas manchas vermelhas ou arroxeadas como se fossem pontos de varizes, que podem romper-se dando sangramento. O clitóris tende a aumentar em consequência do aumento do teor de androgênios

Mamas :

As mamas, ao contrário da vulva, ganham gordura ficando mais pesadas e caídas.

Vagina :


Ocorre perda da rugosidade e da elasticidade. Produz menos secreções com alteraçào da acidez local , facilitando o aparecimento de flora inepecífica, daí a possibilidade de : vaginite atrófica , dor ao coito ,corrimentos e coceiras. A uretra é facilmente irritada. Estas mudanças aumentam a probabilidade de trauma, infecção, e dor.

Útero :


Diminui de tamanho. A proporção colo / corpo retorna a metade. O colo sofre estenose ( estreitamento ) do canal.


O endométrio diminui de espessura e se atrofia porém, permanece com a capacidade de resposta aos hormônios da mulher e os administrados.


Trato urinário :


Há receptores de estrógenos ( RE ) na uretra e no trígono vesical daí, são denominados tecidos hormônios dependentes.


Com a queda nos níveis de estrógeno, os tecidos de sustentação da bexiga e uretra diminuem. Ocorre perda da elasticidade e atrofia de mucosas. Surge a incontinência urinária pois diminue a pressão existente dentro da uretra e o efeito da pressão abdominal sobre a uretra proximal.


A reposição estrógena pode melhorar estes sintomas significativamente em algumas mulheres.

Vários estudos indicam que administração de estrógeno pela via vaginal é muito mais efetiva para tratamento de mudanças atróficas.


Além dessas indicações para TRH sintomática, outras existem tais como:


aparecimento de sensação permanente de cansaço e desânimo.
ocorrência de palpitações ou batedeira no coração.
irritabilidade, mesmo na presença de boas condições de sono.
insônia e perda da sensação de bem estar, com mudanças significativas no comportamento pessoal e social, caracterizadas popularmente como sensação de "baixo astral".
aparecimento de dores nas juntas e nos músculos.
alterações da pele tais como: secura, enrugamento e descamação frequente.

As indicações preventivas são:


prevenção das fraturas ósseas devidas a osteoporose.
prevenção das doenças cardiovasculares
prevenção da doença de Alzheimer.

Assim, a TRH por longo período, pelo menos por sete anos, é recomendada para mulheres que apresentam risco elevado de fraturas osteoporóticas, baseado na medida da densidade óssea, avaliada pela densitometria óssea. Tal situação representa cerca de 25% das mulheres na menopausa
Ressalta-se que há muitas opções, não hormonais, para a prevenção e tratamento da osteoporose:


dieta;
exercício;
vitamina e
suplementação mineral

DIRETRIZES BÁSICAS PARA OSTEOPOROSE
TRATAMENTO / PREVENÇÃO

Ingestão de Calcio - 1200 mg/dia
Vitamina D 400 - 800 IU/dia para pacientes de alto risco
Manutenção regular do peso
Exercicios musculares de alongamento
Evitar fumo
TRH é o tratamento de primeira linha.

Estudos clínicos mostraram que o alendronato (Um composto biofosfonado que inibe a reabsorção óssea ) pode ser usado nas doses de 5 mg/dia para prevenção e 10 mg/dia para tratamento, aumenta significativamente massa óssea comparada com placebo ( substâncias inertes ) em vários locais de esqueleto, não considerando idade, raça , taxa de referência de modificação óssea, ou referência de densitometria óssea, como também , que êle reduz as taxas de fraturas vertebrais e não vertebrais.

Outras medicações parecem contribuir com a TRH , para a prevenção de perda óssea e redução do risco de fraturas.


O raloxifene, um Mediador Seletivo de Receptores de Estrógeno ( MSRE ), mostrou contribuir para diminuir o risco de fratura vertebral, em mulheres pós menopausa, em cerca de 50%. Nesses casos a administração suplementar de cálcio e vitamina D está recomendada.

Raloxifene é uma opção efetiva para a mulher com um útero intato desde que não estimula proliferação endometrial. Porém, há um risco aumentado para trombose venosa com raloxifene.

A perda de estrógeno também coloca as mulheres pós menopausadas em risco aumentado para perda de dentes e doença periodontal. Estudos evidenciaram uma diminuição significativa do risco dessas eventualidades em mulheres em TRH.

Outra característica fundamental da TRH, é a prevenção em cerca de 35%de doenças cardiovasculares ( DCV ) na mulher menopausada.


Sabe-se que na evidência de níveis hormonais adequados as mulheres apresentam risco quatro vezes menor que os homens de terem infarto do miocardio e/ou derrame cerebral. Aquelas que não fazem TRH passam a apresentar risco igual. A explicação para isso é que os estrogenos induzem mudanças no metabolismo dos lípides, proteínas, nos fatores hemostáticos, e nas atividades musculares cardíacas.


Os níveis crescentes de colesterol observados em mulheres posmenopausadas podem ser considerados , em parte, pelo risco aumentado de DCV.

Muitos estudos demonstraram que a Terapia de Reposição Estrógena ( TRE ) ou a TRH cíclica está associada com um risco reduzido de doença coronáriana em mulheres pós menopausa. Essa reduzida atinge cifras de 25% a 50% comparadas a mulheres que permanecem sem tratamento.

A maneira como o estrógeno exerce um efeito benéfico no sistema cardio vascular inclue está relacionada com os seguintes fatôres :

efeitos no metabolismo de lipoproteinas (fibrinogen) ,
efeitos na pressão sanguínea,
efeitos na sensibilidade a insulina,
efeitos corpóreos de distribuição da gordura e
o efeito protetor do estrógeno nos vasos sanguíneos.

A TRH e o Sistema Nervoso Central

Receptores de Estrogênio ( RE ) são abundantes no cérebro. O estrógeno desenvolve um papel em muitos processos de cérebro. Assim , é importante para adequada manutenção do fluxo sangüíneo cerebral, para utilização de glicose no cérebro, para manutenção da atividade sináptica ( relacionadas com funções dos nervos ) e do crescimento neuronal (regeneração de nervos ) como também nas funções complexas de reconhecimento.

Doença de Alzheimer e TRH.


Os efeitos benéficos em função do sistema nervoso central aparecem em relação a doença de Alzheimer ( D.A. ), causa principal de perda da independência e institucionalização e, é um tópico importatnte de saúde para mulheres.

Estudos evidenciaram que a idade do inicio da D.A. era significativamente tardia em mulheres que tinham tomado estrógeno comparada com aquelas que não tomaram sendo o risco relativo da doença significativamente reduzido, chegando a ser de 40 % a 60 %. A redução no risco de D.A. parece ser diretamente proporcional a duração do uso de estrógeno.

A Doença de Parkinson ( D.P.) e TRH.


A reposição de estrógeno tem evidenciado reduzir sintomas de D.P. e dosagem de levodopa
( medicação específica utilizada na D.P. )


Problemas de visão e TRH

Há correlação de incidência aumentada de condições que ameaçam a visão em mulheres pós menopausadas.

Degeneração macular idiopática, afeta as mulheres predominantemente acima dos 60 anos, por provável componente hormonal, pois os os sintomas tornam - se mais graves após o início da menopausa.

Degeneração macular relacionada com a idade , é uma das principais causas de cegueira nos Estados Unidos. Alguns estudos sugerem que uso de estrógeno possa reduzir sua incidência.

Como se pode observar pela leitura acima, existem várias formas de reposição dos hormônios, seja com estrogênios, progestagênios, androgênios e outras drogas que atuam como se fossem hormônios.


A ação do estrógeno difere. Sabe-se que :


* Estrogenos diferentes parecem exibir diferentes atividades em diferentes tecidos .

* Potência e especificidade de um estrógeno específico podem variar de tecido a tecido.

* Mulheres respondem diferentemente à ação do estrógeno em vários tecidos.

Assim, o acompanhamento da administração da TRH é fundamental.


Resultados precoces não devem ser esperados. A mudança fisiológica deve ser lenta, a fim de evitar-se efeitos colaterais , bem como sinais e sintomas ( aumento do peso, irritabilidade etc...) indesejados, levando a uma desistência precoce.


O uso de agentes hormonais sem a devida orientação médica pode levar a distúrbios muito sérios. É importante assinalar que embora os sinais e sintomas sejam devidos a falta de hormônios, a TRH deve ser feita levando-se em consideração características de cada mulher e não de forma aleatória.

Consultar um ginecologista leva a uma melhor orientação.

Mesmo com reposição adequada, há possibilidade de efeitos indesejáveis, que poderão ser minimizados ou abolidos por orientação médica:


Os hormônios administrados por via oral, ou seja, ingeridos pela boca, podem levar a sintomas do aparelho digestivo indesejáveis como: náuseas, vômitos e dores no estômago. Também podem ocasionar aumento de peso localizado e dores nas mamas principalmente por retenção de água. Não é incomum o aparecimento de perdas sanguíneas semelhantes a menstruações. Alguns hormônios também podem alterar as reações psíquicas com o aparecimento de insônia, irritabilidade e depressão.
Os hormônios administrados por via trans-dérmica, ou seja, os chamados adesivos apresentam vantagens e desvantagens, como as outras vias. Dentre as desvantagens em um número considerável de mulheres, observa-se reações irritativas da pele devido ao álcool do adesivo.

Resumindo as formas de administração de hormônios temos:

oral;
transdérmica com adesivos ou gel;
implante subcutâneo - tem duração de seis meses e são colocados debaixo da pele ;
vaginal

As contra indicações da TRH devem ser discutidas individualmente. Algumas situações são consideradas importantes para análise em conjunto.São elas : história recente de infarto do miocardio, hipertensão arterial grave, câncer de mama (hormônio dependente) e câncer do útero prévio.

Assim verifica-se mais uma vez a necessidade de ter seu caso estudado, discutido e orientado por um médico.